Pequena reflexão sobre a obra de Zygmunt Burman. "A Modernidade Líquida" (2001).
Por: Bruno Guivares Filho
Entender a obra de Zygmunt Bauman (2001) nos causa
a impressão de compreender como se molda a própria vida. O título do livro “A
modernidade líquida”, revela a distinção que existe entre uma situação “líquida”
e a “sólida”. Enquanto o líquido procura e adapta-se a uma determinada forma, o
sólido continua em sua forma rígida.
Traçando novos caminhos, os fluidos são facilmente
conduzidos, passando em qualquer obstáculo que o permita passar. Ao tentarmos
segurá-lo, o líquido insiste em escapar e escorrer entre os dedos, livre e
escorregadio. sempre que encontra um espaço vazio procura preenchê-lo, transformando
assim, uma situação, não de forma permanente, mas até que consiga novamente
buscar novos espaços.
Sendo a história testemunha da competição que
disputam os líquidos e os sólidos, pôde vislumbrar a transformação moderna, que
buscou o aperfeiçoamento, ou seja, exterminar os sólidos defeituosos e criar
sólidos mais perfeitos. Os tempos modernos chegaram e encontram uma situação pré-moderna
com um avançado derretimento dos sólidos. A humanidade então precisou fazer
algo para tornar mais resistente o estado sólido, algo que se pudesse confiar
para torna-lo “administrável”.
O alvo dessa transformação, a princípio, seriam as
lealdades tradicionais. Para poder construir o novo, seria necessário desatar
as amarras que impediam a concretização de um conjunto mais sólido e
resistente.
O estudo de Bauman (2001) nos remete ao “tempo/espaço”,
de um mundo que não existe mais, onde os vizinhos viviam em harmonia, e o convívio
amigável foi algo comum nas comunidades. Sempre podemos achar que esse mundo ainda
é possível, que o ser humano de repente deixe de ser “sólido” e opte por ser “líquido”,
adentrando nas situações possíveis de serem transformadas, não de forma
concreta, mas tomando forma como o líquido, escorregando por entre os dedos das
dificuldades, encontrando a harmonia necessária.
A ideia de viver em comunidade, também está baseada
na condição de ser “líquido” ou “sólido”. Essa condição é que determina o
convívio harmônico, onde o ser possa ser “líquido” e fazer parte da
transformação ou ser “sólido” e atuar resistente em suas ações, impassível de
mudanças.
Atualmente as cidades foram transformadas em um
amontoado de pessoas estranhas umas às outras, que nunca passaram por um
processo de fluidez, não experimentaram o poder da transformação quando foi
necessário, nunca foram o “líquido” que se adapta a novos espaços e busca novas
formas.
A insegurança nos coloca em situação de avançado
estado de separação, uns dos outros. Bauman lembra uma antiga recomendação dos
pais e avós ao orientar os filhos e netos: para não falar com estranhos, manter
sempre distância de quem não conhece, como se todos os seres humanos pudessem
fazer mal. Essa contínua fuga do outro, torna as pessoas mais distantes e
incomunicáveis, vivendo em um mundo onde o espaço torna-se um bloco “sólido”,
sem tolerâncias amigáveis.
Há uma ligeira compreensão de que podemos aumentar
o espaço quando inserimos aí mais tecnologia, máquinas velozes, levando ao
aumento do tempo. Determinadas ações nos fazem “ganhar tempo”, e até
eliminá-lo. As grandes riquezas estão aliadas atualmente à implantação de altas
tecnologias.
O espaço virtual tem, cada vez mais, ganhado
admiração global. Desde o início do século XXI essa possibilidade de
deslocamento tem sido cada vez mais ampliada. As redes sociais e os grandes
meios de comunicação nos levam a qualquer lugar a qualquer tempo. A internet e
os softwares mais poderosos nos auxiliam nas tarefas mais difíceis e distantes.
A capacidade de ser “líquido” e levar a vida com
fluidez passa por quem se sentir na liberdade de transformação, partir para
novas decisões, moldar seus espaços, poder fazer os movimentos precisos no
tempo e no espaço. O ser “sólido” não tem a esperança de novas transformações,
suas ações são delineadas pela sua forma concreta, de difícil acesso, em um
mundo que necessita de maior fluidez.
Referência bibliográfica:
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2001
Informações sobre o autor:
Professor de Geografia do IF Sertão-PE. Mestrando em Educação pela UFBA.