terça-feira, 17 de janeiro de 2017

APRENDENDO COM A POLEGARZINHA


Foto: Bruno Guivares Filho



A espera do médico num consultório lotado de pacientes me deparo com a insatisfação de não poder estar em casa estudando para o mestrado que a cada dia afunila mais meus estudos. De repente algo me leva a usufruir desse tempo/espaço em que me encontro. Ora, carrego um celular onde baixei todo o livro que preciso em PDF. Recosto-me na poltrona do consultório e sinto fluir uma bela leitura ao tempo em que experimento ali o avanço da tecnologia e a mudança na forma de aprender. Para SERRES (2013) “Pouco a pouco, o saber se objetivou: primeiro em rolos, em velinos ou pergaminhos, suportes da escrita. Depois a partir do Renascimento, em livros de papel, suporte de mensagens e de informação”. Essa evolução agora é real, posso utilizar essa nova ferramenta de estudo ao tempo em que visualizo a mudança pela qual passou e passa a pedagogia: escrita, imprensa e a tecnologia.
Ainda levado pelos pensamentos dos avanços e transformações de nosso tempo me deparo com os questionamentos relatados no livro que estou lendo: “Diante dessas transformações, sem dúvida é necessário inventar novidades inimagináveis, fora do âmbito habitual que ainda molda nossos comportamentos.”. (SERRES, 2013, p.30). E também me questiono: porque tive que descobrir sozinho, sentado impacientemente num consultório, à espera de um médico que pouco se preocupa com meu horário, como utilizar uma ferramenta tão útil para nossa vida. Sim, porque em minha trajetória escolar, mesmo passadas as três fases da pedagogia não tive orientação ou fui apresentado a essas novas tecnologias. Estariam os grandes educadores esquecidos desse avanço? Ou simplesmente não conseguiram adaptar-se à velocidade dos acontecimentos?
A reflexão nesses momentos nos remete à expectativa do futuro: como conduzir essas mudanças que acontecem de forma acelerada se as condições não nos permitem ir além do que é oferecido? As mudanças estão aí, mas nem sempre sabemos lidar com esse avanço. Para SERRES (2013) “Outrora e recentemente, ensinar era uma oferta. Exclusiva, semicondutora, ela jamais se preocupou em ouvir a opinião ou a voz da demanda.”. Os condutores dessa realidade hoje se deparam com o desafio de transmitir os ensinamentos modernos que os mesmo não tiveram, acondicionando-se a aceitar muitas vezes o que os discípulos de suas aulas aprendem sozinhos, nos bancos dos consultórios ou nas dificuldades que a vida lhes impõe.

Referências:
SERRES, Michel. 1930. Polegarzinha / Michel Serres: tradução Jorge Bastos. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2013. 96 p. : 21 cm

6 comentários:

  1. Não podemos perder de vista o que nos tornou humanos. A capacidade de adaptar-se às adversidades e aprendermos a partir dos nossos próprios conflitos. Não estamos aqui para salvar a humanidade, mas para contribuir para que o ser humano mantenha a sua e essência e não voltemos a ser irracionais, conduzidos pelo instinto ou por uma força maior, o mass média.

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  2. Bruno, será que o desafio hoje é de "transmitir ensinamentos modernos"? se continuarmos pensando que educar é transmitir algo, não vejo muita mudança... entendo que precisamos conceber que educar, hoje, é produzir conhecimento, de forma colaborativa... e aí as tecnologias são fundamentais, uma vez que possibilitam novas relações espaço-temporais.

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    1. Concordo Professora! Muito embora "produzir conhecimento", ou seja, a falta dessa produção as vezes incomoda. Na prática não é o que temos visto nas instituições de ensino. A tecnologia está aí, mas o acesso ainda é uma utopia.

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  3. Bruno, você acha possível que consigamos modificar a nossa forma de trabalho? Pergunto isso pq ao mesmo tempo que vemos a modernidade chegar e o nosso aluno fazer uso dela as escolas ainda vivem um modelo engessado e tradicional como se estivem alheias a tudo isso.

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  4. Concordo professora Bonilla, inclusive coloco aqui uma parte das minhas impressões já publicada no meu blog em relação ao cuidado de não fomentarmos a transmissão mera de conhecimento: "Diante de tantas transformações e mudanças, com quebras de paradigmas e a garantia de rupturas históricas, é urgente pensarmos também instituições preparadas para esse novo contexto. A escola precisa está preparada para essas novas conjecturas. Não pode ser apenas uma “escada” de transmissão de conhecimento. O ser humano mudou, o aluno mudou, a sociedade mudou, por isso precisamos entender e refletir sobre esse novo conceito e sobre essa postura embutida na Polegarzinha, com uma nova escola, uma nova educação e uma nova forma de concepção do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação." Essa parte está no meu blog! Acessem!!!

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